segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais um pouco de mim

De lá para cá, venho me tornando alguém que nunca imaginei que pudesse ser. Nunca estive completamente satisfeito comigo mesmo; sabia que alguns eixos me estavam desajustados... Mas não fazia nem idéia da proporção do problema.

E a intelectualidade era a minha defesa, o meu refúgio, a minha sublimação. Ela era quem se fazia de ponte para que eu me comunicasse com o mundo, com as pessoas. Minha dignidade era fundamentalmente edificada a partir do valor a que eu e os outros atribuíamos à minha inteligência, à minha sabedoria — que, convenhamos, não é nem anormal nem espetacular.

Mas nunca foi o bastante. Eu nunca estive satisfeito. Sempre havia mais e mais a ser aprendido, a ser descoberto e construído. Sentia que meus esforços poderiam mudar o mundo — um belo e utópico sonho cazuziano. Fiz da paixão a fraqueza do ser. Do amor, pedido de ajuda daqueles e àqueles que não se bastavam. Porque a razão, e só ela, poderia elevar a humanidade à divindade — que, aliás, era só um conceito chulo e utopicamente idealista!

O que me faltava, afinal? Primeira e fundamentalmente, faltava-me autoconhecimento! Faltava-me humildade, sem a qual meus defeitos e problemas mais íntimos continuariam a ser camuflados, escondidos, esquecidos. Faltava-me aceitação, sem a qual não poderia ter espaço para que minhas emoções recalcadas pudessem emergir e me libertar dos enganos e barreiras que me acometiam... da prisão e do refúgio administrados por minha razão.

E nada sabia do quanto as emoções dotam-nos de inteligência — sem as quais, por assim dizer, não se faria possível ser racional; sem as quais a vida não teria cor, desejo, satisfação... Sem as quais eu me poria longe de mim mesmo, como quem não se decide homem ou macaco, morto ou vivo. Porque é a partir delas que se presentificam o corpo e a mente; e toda a trama da vida não se daria sem o intermédio vivificador chamado emoção! E nem o ser seria; e nem a morte viria... porque não haveria vida!

É por isso que me ponho a sentir o que me grita das profundezas! É por isso que sei o que sei, e é por isso que sei do desgaste que me foi construído... Mas é dele que me assumo humano e reconstrutor de mim mesmo. Porque é de mim que devo primeiramente saber; e é do autoconhecimento que brota o embrião que dá curso à humanização do mundo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Temos algo em comum:
uma busca incessante por algo que não sei o quê, mas que incomoda muito...
Boa sorte na sua busca...

Anônimo disse...

Muito ruim, isso de padecermos de excesso de razão. Mas tudo vai ainda muito emocionante.

CarlaSofia disse...

O oráculo de Delfos dizia:
Conhece-te a ti mesmo.
E Sócrates defendia que «uma vida sem reflexão não merece ser vivida».
Se somos conscientes porque não conhecermo-nos melhor? E isso só é possível se questionarmos.
deixo um sorriso