segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Da política da afetividade


O amor não acontece só. Não se ama aquilo que não se tem. Não se ama aquilo que não se conhece. O amado precisa estar representado, vivificado na consciência do amante. Amado e amante são, por isso mesmo, seres que compartilham um jeito-de-ser-no-mundo; seres que se encontram em desejo e em satisfação.

E quando não há respeito, transparência e empatia, dá-se comumente o problema da incompatibilidade afetiva. Mesmo a paixão, tão prazerosa em um primeiro momento, e tão comum e efêmera nos dias de hoje, mesmo a paixão não resiste caso o casamento ético-afetivo entre os sujeitos não se faça presente. É que a paixão é constituída de desejos e fantasias egocêntricos — o sujeito apaixonado vive essencialmente à parte do universo do outro.

Mas o amor pode nascer da paixão. E ele o faz na medida em que a amizade encontra espaço para florir. Ele o faz na medida em que amado e amante, sob a nítida sintonia em que se comunicam seus mundos, planejam juntos a arte de viver. O amor é, nesse sentido, independente da paixão... Mas não há ser que esteja totalmente imune à tendência inteiramente humana de se enganar, de se deixar dominar pelas pulsões. É por isso que o amor, a fim de não deixar que o intercâmbio afetivo pereça devido à paixão, recorre ao não menos importante recurso chamado razão.

3 comentários:

nay disse...

E existe razão que dê conta num momento como este?
Adorei esse post também... deixou para mim muitas coisas a serem pensadas...

Kari disse...

Deixou mesmo coisas a serem pensadas...
A razão, a paixão, o amor...

Beijos

Ynot Nosirrah disse...

É verdade. Infelizmente deixamos de ser naturais e precisamos refrear nossos sentiments e analisá-los para viver bem em sociedade. Escrevi sobre algo assim algumas vezes, principalmente numa postagem que fala sobre humanos e robôs.