domingo, 26 de outubro de 2008

O som dos objetos

E o que dizer sobre as coisas simples da vida? Quem as significa assim? Se eu não estiver de todo correto, é bem de perto que elas são aquilo que somos. Como se não houvesse simplicidade em si mesmas; e, por isso mesmo, elas logo podem assumir tamanha complexidade. E que podem, e são, constantemente mutáveis... e alienadas a nós mesmos!

Porque somos aquilo que as coisas são. Porque elas são aquilo que somos.

Que quando estamos belos e alegres, assim se faz o mundo: bonito e sorridente! Que quando não nos sentimos amados ou amáveis, o mundo se torna um ambiente impecavelmente desagradável. E é daí que surgem as ilusões — alternativas que acalmam o ímpeto daqueles que não suportam a realidade.

Mas a própria ilusão é uma realidade. É uma alternativa que sobrevive per se; e é alimentada e alimenta a si mesma... Mas é normalmente dissonante da dança que embala todo o resto do mundo. É por isso que elas perecem.

Mas "vamos morrer sem saber, amor".

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Acordar

Quando eu não durmo bem, meus dentes e corpo ficam sujos que só eles. Como se os sonhos fizessem com que a vida fosse outra. Daí que eu me nasço outro... e logo se vai aquele que se fez anteontem.

Mas quando a noite me é agradável, até o cabelo me faz elogios. Como se os sonhos me dessem aquilo que quero da vida. Daí eu me nasço outro... e eis que me torno aquele por quem me apaixono diariamente.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Do dia 18


Os vaga-lumes anunciavam o desejo de que chovesse algumas estrelas. Mas aquela noite, derradeira dos dias em que estive por perto, só testemunhou a chuva que me emergiu das costas e da esquina dos olhos. E os dela, tanto indecisos quanto encharcados, fizeram com que a noite chorasse por aquele momento maravilhosamente significante. Foi quando choveu.

E eu, que há muito não me sentia tão libriano, agradeci a um deus que acabara de me apresentar ao amor — amor à vida e àqueles a quem posso confiar minhas idéias e meus sentimentos; amor a mim mesmo e àquilo que me faz tão digno de levar a vida que tenho: minha humanidade!

Porque aquela noite selou outra etapa do meu renascimento. E agora, mais do que nunca, sinto-me livre e à vontade para amar e ser amado... e deixo-me despir e dispo o véu de quem me confia a sorte das estrelas que continuarão a cair — mesmo que o céu permaneça nublado.

sábado, 18 de outubro de 2008

Chove

Não sei quais palavras usar para dizer aquilo que nem sei. Minha cadelinha me olha como quem diz que me entende. Mas nem eu sei.

O futuro nunca esteve tão distante de mim. Isso me faz sentir que a vida está se tornando um pouco mais longa. Porque é assim que a vejo: longa e misteriosa.

No mais, um pouco cansado e razoavelmente perdido.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Run, Forrest!


Como, Forrest, não ser inteligente mas entender o amor? Queria a coragem e a vontade que a vida te deu. Coragem para se aventurar, ser livre e correr! Coragem para ser aquilo que quer ser, tanto mais livre das correntes mundanas que aprisionam o nosso umbigo. E não ter pressa nem vergonha; e nem deixar de sonhar ou aparar a grama.

Mas eu fui Forrest por alguns instantes. Decerto durante todo o tempo em que o assistia, e provavelmente ainda o farei enquanto aquela história me estiver fresca e dançante. E talvez, se minha sorte quiser, parte daquele Forrest ainda consiga sobreviver à disputa dos traços de caráter que tentam definir o meu jeito-de-ser-no-mundo. Assim espero.

Porque quero dias mais simples e amáveis. Quero outro pôr-do-sol com quem eu possa rir e fazer rir. E quero a perenidade de um romantismo que não me acompanhava há muito tempo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Só o amor é luz"

Queria os dias em que o pôr-do-sol me fazia enxergar uma vida romântica e viçosa. Queria os dias em que eu não me lembrava da incerteza do amanhã. Queria os dias em que eu só chorava de felicidade.

Mas agora, perdido que estou, não sei por que chove ou brilha a estrela; não sei por que me deito ou me pego de pé; nem sei se devo arrumar a cama que vai estar bagunçada pela manhã. É como se Deus, bem devagarzinho, estivesse brincando de me enlouquecer.

Mas eu não acredito em Deus... E às vezes nem acredito que hoje é o meu aniversário — dia de abraços e declarações que me fazem sorrir e reanimar minha fé.

Mas só porque acredito no amor. Porque é dele que nasce e se põe o meu sol. É dele que o dia se faz... e é dele que o dia se vai.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

[...]

Só a própria pessoa para saber o fel e o mel que é sê-la. E só a empatia consegue aproximar o Outro daquele que se expressa sobre o que lhe é sentido. Fora isso, o que resta são julgamentos, preconceitos e críticas infundadas e totalmente revestidas pela ignorância — coisas que segregam, que distanciam os seres uns dos outros.

Mas eis que surge um outro problema: a ignorância de si mesmo! Porque não há autenticidade nem plena intersubjetividade se não há autognose! E não há autognose senão pelo reconhecimento e respeito acerca do que é sentido e pensado; e é do reconhecimento e do respeito próprios que se brotam mudança e encontro — consigo mesmo e com o outro.

E não há amor nem amizade sem essas coisas.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Por esse caminho

Já que a ciclotimia se faz necessária e inevitável, visto o amor não ser coisa dada nem caída do céu, hei de desenvolver aquilo que tanto aprendi enquanto estive latente: expressar-me e fundir-me às coisas e momentos simples que encerram meus dias. Com o café; com a música que me entra e me sai; com os versos que escrevo e recito a mim e aos outros; com os passos e saltos que me trazem e me levam de casa; com os sorrisos e gestos e palavras que silenciam minha solidão; com as mulheres nuas que me encaminham à amada; com o ímpeto dançante que me devolve à loucura e à tentativa de saná-la — enfim, fundir-me-ei a coisas que possam domar o meu humor.

Porque eu sou medo e coragem; dor e prazer; riso e lágrima; passado e futuro; amante e amado; e toda e qualquer contradição que acomete a alma daqueles que se dizem humanos!

Mas o propósito primeiro é que a ambivalência seja encurtada. Que todo o vigor e os potenciais sejam efetivados, atualizados! Que toda a grandeza do ser, embora imperfeita e inacabada, aproxime-se daquilo a que chamamos cristandade — mesmo que a modernidade tardia insista em corrompê-la e distanciá-la de nós.

Pergunto-me, pois, e como sugeriu o poeta, se só o amor é luz! Pergunto-me, enfim, se estamos realmente dispostos a construir a escadaria que conduz ao nirvana, à plenitude, à excelência do ser-no-mundo! — e se o amor é definitivamente a ascendência a que me refiro e anseio.

No mais, resta-me tentar e tentar... com toda a coragem e humildade que me crescem a cada dia.

domingo, 5 de outubro de 2008

Medo e coragem

Queria que fosse de uma vez por todas — minhas descobertas, meu café, minhas canções e o amor que cultiva o meu humor! Mas queria não saber do amanhã. E nem sei.

Somos seres contraditórios, dizem... e o ego é a instância que sintetiza a guerra que acomete o corpo e a alma! Mas a psicanálise fede — como toda e qualquer coisa que se julga perfeita e acabada. É por isso que me julgo imperfeito, inacabado e relativamente livre — embora um pouco fedido.

Ah! Eu nunca tive tanta certeza a respeito do amor! E como só os idiotas e ignorantes podem deter e produzir certezas, eis que me faço idiota, ignorante e completamente apaixonado!

— mas tenho medo e coragem.