domingo, 30 de novembro de 2008

Chegada

Me mostra o norte que te fez chegar até aqui. Me mostra o caminho que se cruza com o meu... que nada, nada é por acaso. Nem as palavras, nem o abraço, nem o adeus.

Mas ainda estamos chegando.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais um pouco de mim

De lá para cá, venho me tornando alguém que nunca imaginei que pudesse ser. Nunca estive completamente satisfeito comigo mesmo; sabia que alguns eixos me estavam desajustados... Mas não fazia nem idéia da proporção do problema.

E a intelectualidade era a minha defesa, o meu refúgio, a minha sublimação. Ela era quem se fazia de ponte para que eu me comunicasse com o mundo, com as pessoas. Minha dignidade era fundamentalmente edificada a partir do valor a que eu e os outros atribuíamos à minha inteligência, à minha sabedoria — que, convenhamos, não é nem anormal nem espetacular.

Mas nunca foi o bastante. Eu nunca estive satisfeito. Sempre havia mais e mais a ser aprendido, a ser descoberto e construído. Sentia que meus esforços poderiam mudar o mundo — um belo e utópico sonho cazuziano. Fiz da paixão a fraqueza do ser. Do amor, pedido de ajuda daqueles e àqueles que não se bastavam. Porque a razão, e só ela, poderia elevar a humanidade à divindade — que, aliás, era só um conceito chulo e utopicamente idealista!

O que me faltava, afinal? Primeira e fundamentalmente, faltava-me autoconhecimento! Faltava-me humildade, sem a qual meus defeitos e problemas mais íntimos continuariam a ser camuflados, escondidos, esquecidos. Faltava-me aceitação, sem a qual não poderia ter espaço para que minhas emoções recalcadas pudessem emergir e me libertar dos enganos e barreiras que me acometiam... da prisão e do refúgio administrados por minha razão.

E nada sabia do quanto as emoções dotam-nos de inteligência — sem as quais, por assim dizer, não se faria possível ser racional; sem as quais a vida não teria cor, desejo, satisfação... Sem as quais eu me poria longe de mim mesmo, como quem não se decide homem ou macaco, morto ou vivo. Porque é a partir delas que se presentificam o corpo e a mente; e toda a trama da vida não se daria sem o intermédio vivificador chamado emoção! E nem o ser seria; e nem a morte viria... porque não haveria vida!

É por isso que me ponho a sentir o que me grita das profundezas! É por isso que sei o que sei, e é por isso que sei do desgaste que me foi construído... Mas é dele que me assumo humano e reconstrutor de mim mesmo. Porque é de mim que devo primeiramente saber; e é do autoconhecimento que brota o embrião que dá curso à humanização do mundo.

sábado, 22 de novembro de 2008

Bem-vindo ao clube

Eis que me vejo a formar, mesmo que me faltem alguns meses, e a encarar esse mundo que me vive a cobrar esforços — um mundo que não se sabe por quê; um mundo que faz da produtividade o seu para quê. Mas já me disseram que o trabalho dignifica o homem — um esforço comumente desgostoso e doloroso, ainda que uns poucos se dão com a sorte de se realizarem pessoal e profissionalmente.

Jovens e jovens que se vêem forçados a crescer, a tomar decisões que lhe escapam a certeza, a segurança — jovens que dão linha a um movimento que desconhece a si mesmo; que desumaniza os seres que se dizem humanos; que estabelece quais são aqueles que merecem ter luz, comida e roupa lavada; que determina os valores que se fazem oportunos, convenientes.

Mas nós queremos ordem e progresso! — queremos organizar, ordenar o modo-de-ser das pessoas a partir de regras de conduta que se fazem incapazes de ruir o escudo que protege o poder. E queremos progredir, digo, produzir desenfreadamente, posto que o ter se mostrou muito mais eficaz que o ser — embora os índios amazônicos façam florir mais paz, amor e graciosidade que qualquer um de nós. Mas quem é que ainda sonha com isso?

Continuemos, assim, a produzir nossos carros luxuosos, nossos apartamentos, nossos filhos domesticados e gananciosos; continuemos a produzir mais preocupações, mais dívidas, mais poluição e mais ilusões acerca do que vem a ser "felicidade". E não nos esqueçamos de tomar o que restou do território daqueles que ainda resistem à nossa ignorância.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Doce

Eu quero a sorte de um abraço comprido; de um beijo que não se acaba com um adeus... que não salta de boca em boca, como que sem saber o que quer. Porque eu me cansei de fumar minhas preocupações... meu não-saber... minha fuga. Que eu não quero voltar a dormir.

Por que eu sou assim? Acho que já não importa mais. Só por agora — não importa! Queria ter bebido um pouco mais... mas queria ter fumado menos. Do que adianta as maçãs? Do que adianta as masturbações? Do que adianta duvidar da vida, da morte, de Deus?

"Por que cê tá carregando esse tijolo, ?", como quem achava graça na estupidez. Como se precisássemos de bons motivos para deixar que a correnteza levasse. Mesmo que nem sempre seja o melhor a fazer. Porque a correnteza também é dúbia... e nem sempre caminha de encontro ao mar.

Sabe? — deixa pra lá! É só a boca que tá um pouco suja. Mas logo passa. Logo que eu matar essa coisa de dar ouvidos à Psicanálise. (Ou seria de dar ouvidos aos meus desejos?) Porque a verdade é aquilo que quero. E eu quero aquilo que já me esqueci. Mas logo terei que colher as roupas do varal (eles não me deixam esquecer).

Acho que um pouco cansado. Essa coisa de me tornar adulto não tem sido mole. Mas eu não me deixo enganar! — guardo uma rapa-dura-mole na geladeira.

domingo, 16 de novembro de 2008

Quando queremos o aqui-e-agora

A arte de amar não se aprende em manuais. Cabe aqui o que Aristóteles dizia sobre as virtudes: aprendamos com a prática! Porque as revistas e os programas televisivos não vendem a receita do amor, mas aquilo o que queremos ouvir. A mídia lucra com a insegurança que assombra o indivíduo moderno — insegurança sobre os futuros econômico e afetivo. E a gente quer o que é fácil e imediato, dado que o desejo-moderno não suporta a incerteza de sua satisfação. É por isso que corremos do amor.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Da política da afetividade


O amor não acontece só. Não se ama aquilo que não se tem. Não se ama aquilo que não se conhece. O amado precisa estar representado, vivificado na consciência do amante. Amado e amante são, por isso mesmo, seres que compartilham um jeito-de-ser-no-mundo; seres que se encontram em desejo e em satisfação.

E quando não há respeito, transparência e empatia, dá-se comumente o problema da incompatibilidade afetiva. Mesmo a paixão, tão prazerosa em um primeiro momento, e tão comum e efêmera nos dias de hoje, mesmo a paixão não resiste caso o casamento ético-afetivo entre os sujeitos não se faça presente. É que a paixão é constituída de desejos e fantasias egocêntricos — o sujeito apaixonado vive essencialmente à parte do universo do outro.

Mas o amor pode nascer da paixão. E ele o faz na medida em que a amizade encontra espaço para florir. Ele o faz na medida em que amado e amante, sob a nítida sintonia em que se comunicam seus mundos, planejam juntos a arte de viver. O amor é, nesse sentido, independente da paixão... Mas não há ser que esteja totalmente imune à tendência inteiramente humana de se enganar, de se deixar dominar pelas pulsões. É por isso que o amor, a fim de não deixar que o intercâmbio afetivo pereça devido à paixão, recorre ao não menos importante recurso chamado razão.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

— O gato comeu?

Cê sabe... Todo esse drama, essa dor... Cê sabe que eu preciso dormir.
Sabendo que alguns dias exigem mais disposição, não sei se vou agüentar.
Só não sei se vou...

Queria te fazer de cama. A minha parece um pouco cansada de mim.
Pode ser o meu peso. Pode ser o meu cheiro.

Mas me fala de você, fala...
Cadê aquele sorriso que me olhava nos olhos?

domingo, 2 de novembro de 2008

Posso estar só...

Não sei se é saudade ou se é solidão. Sei que não posso ficar sem ter o que fazer. Mas sou feliz quando canto sozinho. Estou satisfeito quando cheiro a flatulência que me sai pelo rabo. Gosto de beber meu café e dançar coisas que nem sei. Meu quarto é o meu abrigo.

E sinto saudade da minha mãe. Saudade de quando eu morava no útero dela. Mas tenho que parar com essa vontade de completude. Tenho que parar com esses ideais de um mundo que ainda está por vir.

Ou o tempo é quem está brincando comigo? Estar gay por alguns momentos... fumar e me permitir idiota quando convir. Porque a crueza da realidade corrói o pâncreas. E logo toda a energia fica minada, esquecida, calada. É por isso que recorremos às ilusões.

Mas pensei que fosse melhor que eu não fumasse nem bebesse. E deixo essa saudade tomar conta de mim... sem contudo me tornar triste ou sozinho de tudo — porque estar só não me impede de ser de todo mundo.

sábado, 1 de novembro de 2008

Placebo

Jogue-os naquela caixinha de origami. A diarista sabe do que se trata. Depois vai catar o que ficou no chão e na cama... e ficará com o tempo.

Sabe? — essa coisa de tempo é mesmo muito curiosa. E eu nem preciso de cânhame para pensar assim. Porque aquilo tudo foi a noite de ontem. Cheia de chuva e de desenho animado. E aquele hambúrguer foi comido em câmera lenta. Só porque a cabeça de quem comia e via estava noutra balada. E só.

Sabe? — às vezes a vida muda. Mas é difícil saber se foi o ovo ou a galinha. Quer dizer: se a gente é quem muda a vida ou se a vida é quem muda a gente. Talvez estejamos falando da mesma coisa.

Meu corpo está sujo e coçando... e eu não quero pensar em mais nada. Acho que é um bom momento para se ouvir Placebo. Como se a felicidade fosse oriunda de um buraco negro.