quinta-feira, 26 de março de 2009

A identidade do efêmero


Cadê os berros de Cobain? o canto-jovem dos hermanos; as notas que lubrificavam o corpo e a alma... — cadê?
Os desenhos de infância; a bicicleta azul, a espada dos gatos; os coleguinhas-de-rua e a mãe que cuidava do que era insalubre... — cadê?
O cigarro, que não libertou nem aprisionou; e o sexo, que trouxe o susto, provou-se pecado e abriu as portas do céu... — cadê?
A inteligência e a sabedoria, que por pouco não massacraram o amor... e as certezas acerca do homem, da vida... — cadê?
Cadê o esporte, que pediu que fosse atleta, que não bebesse... que compreende a arte e a disciplina... — cadê?

Eu-mesmo, longe de minhas paixões, de meus referenciais... e desgarrado de tudo o que insiste em se enraizar, em me definir... — cadê?

terça-feira, 24 de março de 2009

Traduzindo o intraduzível

Essa mania de pensar que não é tão simples assim. Que há sempre um porquê do porquê. Que causas antecedentes determinam causas iminentes. Que causa seja um conceito causado por uma lógica ainda mais minuciosa, uma lógica mecanicista. Que raciocínios mecanicistas obedecem à uma mecânica inerente, imanente, que extrapola quaisquer tentativas de compreensão.

Essa mania de sentir que poderia ser melhorado. De não contentar com o que se tem, nem com o que se sente, se pensa... tampouco com o que se é! Essa busca insaciável pela completude, pela perfeição, pela imortalidade. Essa falta de paz, de Deus, de amor.

Esse prazer oriundo da angústia, da caçada-sem-fim, do eterno vir-a-ser. Essa vontade de potência, de conquistar o não-querer. Esse privilégio de se apoderar da própria vida, de planejar a própria morte! Esse gostinho de que assim é que vale mesmo a pena...

Das ruínas ao triunfo, um Eterno Retorno. Da dúvida à convicção, a flexibilidade. Das virtudes às paixões, liberdade!

— Sabe-se, contudo, que nada disso é verdade.

domingo, 22 de março de 2009

Do aceitar ao sustentar. Do desejo ao medo.

Não me canso de tentar. Depois que se conhece o céu, o resto é só resto! E vale a pena o esforço, a escalada. A mediocridade da vida reside na distância entre os fragmentos que compõem quem somos. A palavra esquizofrenia bem poderia expressar essa característica dos pobres em autoconhecimento, os desarranjados, os desequilibrados. Os ditos esquizofrênicos são, na verdade, mais mergulhados em si do que essa banda de neuróticos.

Ah!, se eu tivesse mais coragem de me ver pelo avesso! E quando o faço, como me dói a proximidade discordante das diversas porções que me constituem!

Mas o amor, o céu, ele não se repousa num só lugar, num só tempo. O amor é fruto da concórdia, do encontro, da sensibilidade; e é inerente a quaisquer relações traçadas diariamente... — desde que capazes de enlaçá-las e sustentá-las com agrado e concordância.

Mas temos medo de toda essa grandeza! Melhor, temos medo de aceitá-la, prendê-la, perdê-la!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Corre, tempo... corre!

"Aprender a dar foi o que ganhei."

E trouxe comigo a mão que vai me fazer lembrar que o tempo, volátil que tem sido, e mais ainda quando se abraça com Liberdade, em praça ou em se tratando do interior, o tempo não pede que a gente se apresse.

domingo, 15 de março de 2009

...

Diz que vai me fazer acostumar com a sua presença. Diz que não se importa com o meu balanço-meio-sem-jeito, todo indeciso, hesitante, que tenta imitar o seu riso.

Só não diz que minha preocupação é por coisa pouca.

quinta-feira, 12 de março de 2009

No canto da esquina


Há muito não sentia tanta pena de um mendigo. Foi que ele se parecia comigo. All Star nos pés, barba grande, cabelo liso. Tava todo encolhido; segurava uma vasilha nas mãos.

A gente se toca quando as coisas se encontram. Nem toda miséria é tolerável.

sábado, 7 de março de 2009

Do vazio para a solução

Tô me sentindo muito à parte desse mundão todo. Enquanto viajava, vendo o mato quase intocado que entornava a rodovia, pensei em como seria agradável fundir minh'alma com aquilo tudo... esquecer toda a vaidade, ganância e ignorância que convive comigo — perto e dentro de mim.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sem precisar seguir

Não é todo dia que eu sigo a minha alegria. Cê sabe, me preocupo demais. Mas hoje nem mordi o lado de dentro das minhas bochechas. Nem quando vi o passado passar.

Acho que já estou me aconchegando nessa vida nova.

domingo, 1 de março de 2009

Já é hora

O acordar voltou a me fazer outro. Sou tantos que nem vejo o tempo passar. Mas ele não corre mais que minha vontade de tornar-me um. E como a vontade fica, é nela que me identifico.

Cansei de me mudar... de dizer que foi por causa da alergia, do barulho, do tipo de família. Quero um berço e uma mãe que me faça elogios, e quero ajudar nos afazeres do lar.

Mas tô voltando a me reencontrar no espelho. Ontem saí com o pessoal da rua. Tocamos violão e comemos sanduíche. As mesmas baladas que me rejuvenesciam.

— Amanhã serei homem de novo.