segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Só diz

que vai aguentar o sufoco,
a sonolência mórbida
de quem foi aterrado
pelo tempo
— por si mesmo.

Não diz
que estou correto,
que descrevo com clareza
o que se passa ao redor.

Diz que
me esqueci de acordar;
diz que
vai passar.

Do relógio ao psicológico

Se toda a trama da vida se assenta nas emoções, todo o sentido a elas atribuído é dado pela consciência. Mas não há sentido sem tempo, e não há tempo sem consciência. Qualé a emoção necessária para se antever os fatos? Qualé o sentido do agora — esse sentido escasso que se esvai por falta de tempo?

Por que escrevo

Me escorregam entre os dedos os versos que falam da beleza da vida. Me custa muito discorrer sobre saúde, estética e amor-vivido — essas coisas que não se definem problema. Falo do que me escapa, da falta que me ameaça. Falo porque me organizo em ato — como quem busca um ponto final.

sábado, 12 de setembro de 2009

Até amanhã

Pois foge dos meus braços bravos,
esfria, seca a boca e aquece as pernas
para as ruas nuas.
Já não é hora
de eu querer que o tempo
e o lugar e o humor
sejam todos só meus.

Sinto e falo com os olhos
que vejo o mundo.
Sinto que olho de formas
só minhas.
Não podendo mais mirar
para as mesmas piadas,
tudo o que resta é partir.

Coisa de gente

Quando quase tudo tem forma de gente
e eu pedindo que cale,
fala o mundo com vontade própria
— como se eu fosse coisa.

Mas sou tão gente quanto
as coisas que parecem gente.
Não só porque as vejo assim,
mas sobretudo porque falo delas.