sábado, 10 de dezembro de 2011

Antes que seja tarde: uma previsão

Queria não ter erguido os ombros,
e não amado e orado e deixado de lado
o que vi e senti no passado.
Que tudo é repetição: o descuido,
o descaso, o acaso e a remissão.
E tudo é o caso de tentar prever
e a expectativa não condizer.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Do cinza que a varanda me traz

O ser triste, trazido por distância, que traz insegurança, traz o cigarro; e o cigarro, mais tristeza. E a fragilidade incide, e o pensamento lá em você, e tudo em mim divide.

domingo, 21 de agosto de 2011

Caixa de lembranças

O que há para que se guarde no fundo as lembranças suaves e a razão de ver e tocar e cheirar? O que há para que se entulhe por cima o desgosto, a poeira e o assento e a mesa vazios?

Uma lanterna, uma vara de pescar e uma porção de esperança resumem o meio de prover o resgate; e a calma, a perseverança e o brilho que emana do fundo devem evitar o desgaste.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Deste tempo

Como pode ser, ao mesmo tempo, nova e repetitiva essa vontade de estar e sonhar e cantar a dois? Como pode vir, ao mesmo tempo, o entrar e o sair da voz e das mãos que parecem jogar? Como pode ter, ao mesmo tempo, cuidado e desprezo com a sorte de poder se encontrar de novo? Como pode, afinal e ao mesmo tempo, sonhar com a estrada que mira o eterno e encurtar a vista de firmar raiz em terra breve?

Pode ser de o tempo dizer.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Renamoro

Vai ver que inventei todo o amor que tinha outrora encontrado,
na espera que a espera cessasse e trouxesse o achado,
o beijo roubado, o sentido de todo o pecado.

Vai ver que sei antever o que vinha dizer,
e queria também fazer notar
e lhe dar algo mais que um breve prazer.

Vai ver que mudei o mundo e queria entender a outra face
e arrancar o disfarce, e que toda essa história
de engano e ciúme seja charme de um destino
que me lev'onde sabe.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Às escondidas

Espera que na certa anoitece feliz
-- um leve aconchego e uma cara
de foi-sempre-isso-que-quis.

Que quero também seu entorno,
mais do mesmo e um suspiro
díspar de um fruto que saiu do forno.

sábado, 16 de abril de 2011

(...)

Caibo na história que conta e me encontra de novo em braços seus, e finjo que faço descaso ao caso que me ruma ao aperto, ao mundo meu. Mas sou teimoso: sigo os passos que marcam o compasso, entrego à sorte o apego e o sossego -- a saliva que deve assaz fechar a ferida do seio.

terça-feira, 29 de março de 2011

Como você

[...] que é a descrição de quem me ouviu falar: tudo aquilo a que procuro, a que espero, a que me entrego e me apego. Um pedaço de mundo que deve haver por aí: seu jeito e cheiro, seu dengo... e o carisma e a delicadeza dos traços. Um pedaço de sonho que há de existir, porquanto te vejo em peles e telas outras; um restinho de vida que renasce e traz consigo um destino gostoso de ouvir.

domingo, 27 de março de 2011

Ah, faça não...

Ah, cê me procura em privação, diz que é saudoso e se prega em minha mão; me beija os pés, faz amor como um operário, me agarra forte e se finge de armário; mas logo não tarda um "Boa noite!" de quem sai atrás de outras saias, e não mede o risco de cantar e encantar com o seu violão.

Ah, faça não!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Conselho

Encosta o ombro em que te fez ouvir melhor, e espera que há de ver que não há tempo que espere uma nova promessa. E faz valer a chance que passa a cada momento, a cada anúncio, tendo contudo a calma e a persistência de quem dribla a covardia; que assim, se o vento levar e o esforço revigorar o velho fim, vai entender que se vive uma só vez.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Teletubbies

Olha, não precisa me atender. Não resisto e não insisto em querer dizer o que me passa -- e disfarça, que é clichê. Não sei dizer. Não sei dizer.

Mas me agarra forte e me diz que há vida além de um HD. Me passa um cigarro e me enche o saco, mas não me recusa e me faz pensar que eu não valho um centavo.

Okay: exagerei. Okay: é hora de dar tchau!

domingo, 13 de março de 2011

Perdão

Queria gravar o riso abobado que marca o céu da virada, avermelhado, e toda a mentira sincera que me escapa e me faz refém do seu toque. Mas o pecado e a distância, que fazem valer mais, podem querer não resistir ao ânimo e à coragem -- estes pontos que figuram como o açúcar no fogo.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Carnaval

Que a distração nos faça bailar ao som do desinteresse, da vontade de abraçar enquanto dure a surpresa, o desconhecido, e que termine com a satisfação de um lindo e breve amor inventado.

Em passos de formiga

Não nego que me entrego e me apego ao sossego de ter o corpo agitado; e com passos rasos, sem atraso, conquisto o espaço que outrora desfaço; e neste, por um instante, sei que doravante há de findar a espera de me ter manso, sensato, com a habilidade e o carisma de um bom amante.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

(...)

E brinco de fazer a cena de amanhã, sem hesitar, com otimismo e inspiração que me trazem e levam e me garantem a vontade de uma dança a dois.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Poeira alta

Me pego lento, me solto ao vento e tento, sem tormento, me aterrizar em terra arada. Que bocas e fumos e bolsos duros suspendem a chance de me ter por perto, erguido, como quem não tem medo de nada.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Soprando as cinzas

Se me deixo enfrentar pelo acaso e me ponho a crer que os pontos se encontram por sintonia, aproximação, e que todos os sinais são bem menos que meros enganos, menos que loucura, imaginação, despejo-me em águas desabitadas, como quem desconhece a si mesmo e o mundo, este que traz e leva e impõe as regras, as rédeas e, para quem sabe, a liberdade.

E não me contento com o que tenho, com aquilo que posso e, na medida em que desço o vale, com aquilo que já vivi -- toda a paz e o prazer que se me entranham e se me escapam em razão da distância, da insegurança e da dúvida, esta antevisão marcada pela ineficiência com que explicamos, prevemos e controlamos o outro.

Pois me resta seguir com a porta entreaberta, tanto àquele como a qualquer outro esbarrão que se faz repentino, de tal forma que se dê chance à estabilidade dos pontos que trazem mais cor, riso, calor, e de tal maneira que as palavras, deitadas por quem já está de pé, figurem um passado leve, limpo, honesto, sem precisar de disfarce e prolixidade.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fuga ou Esquiva

Queria, sobretudo nos últimos dias, poder beber café sem ter que me preocupar com o estômago.
Queria, para os próximos dias, tê-la por perto e por mais tempo, de tal forma que o cotovelo deixe de ser uma preocupação.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Sem vergonha

Se a minha cabeça fosse o Google, os três termos mais acessados seriam "Declínio Cognitivo", "Epistemologia" e... e o nome dela.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Além do que me viu

Pois não te preocupa
caso a matuta e o deslize
fizerem de mim, de quando em vez,
um poço de clareza e insensatez.

Mas não te assusta, meu bem,
que amiúde me invade
a bondade e a leveza
de querer te levar além.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Por algum tempo

Como se o seu nome fosse o primeiro da agenda,
o nosso romance, certeiro,
e o nosso amanhã, fitado.

Como se eu pudesse fingir, só por um momento,
ser aquele cara de quem falam
-- largado, solto, avoado.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

De agora em diante

Que venha o que há de vir,
que há veia que aguenta
e carrega o calor
de um peito abraçado.

Que seja como há de ser,
que há sede que pede
e aproveita o sabor
de um destino minguado.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Dedos tortos

Qualé a hora certa para um recomeço?
Qualé o novo que não rima com repetição?
Qualé o sossego que segura um abraço?
Qualé a boa medida da indecisão?

Não sei se o vale vale o risco do pico, da alegria e do desejo de te acompanhar.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Francesa

E seguro o vazio que fez suas mãos na saída,
que com os pés sujos me trouxe
a certeza de querer tê-las
de novo, com mais jeito...

Mas com o velho ciúme que anuncia a despedida.